Irresponsabilidade, oportunismo, dúvida
A irresponsabilidade de que trata o título é, claro, referente às atitudes do presidente Jair Bolsonaro ontem. A primeira delas quando, ‘desobedecendo’ orientações de se manter em isolamento, apesar de testado negativo para coronavírus. A segunda foi sua crítica ao que considera ‘histeria’ causada pelo vírus. E disse mais: “Devemos respeitar, tomar as medidas sanitárias cabíveis, mas não podemos entrar numa neurose, como se fosse o fim do mundo”. Mas não ficou por aí: “Cancelar jogos de futebol contribuiu para o histerismo. A CBF poderia pensar em vender uma carga de ingressos de acordo com a capacidade dos estádios. Porque cancelar não vai conter o vírus. A economia não pode parar. Vai gerar desemprego”.
Não contente com o que fez ontem, o presidente voltou, nesta manhã, a desafiar a orientação dos médicos de se manter em quarentena, uma vez que manteve contato com pessoa infectada pelo coronavírus, e deixou o Palácio da Alvorada. Não contente com isso, deu novas declarações minimizando a pandemia, que já matou mais de 5,7 mil pessoas em todo o mundo.
É inacreditável que Bolsonaro não perceba o alcance de suas ações irresponsáveis. Ele é – ou deveria ser – o líder da nação e como tal deveria dar exemplo, mantendo-se na quarentena recomendada e evitando dar declarações que contrariam todas as autoridades de saúde. Que caminho, afinal, o presidente está tomando ou pretendendo tomar ao confundir a população com suas atitudes inconsequentes? Que mensagem ele está querendo passar? Qualquer que seja a resposta, o que ele fez só pode ser consideradolamentável!
Oportunismo
É lamentável também o oportunismo que anda à solta pelo País. É gente gananciosa e egoísta que só pensa em ganhar às custas dos outros. Dia desses, meu irmão e eu fomos atrás de mais álcool em gel. Ele foi a três farmácia. Não achou o produto em duas delas. Na terceira, estavam cobrando R$ 50 por um frasco de 400ml.
No sábado, fui a uma lojinha perto de casa. O dono havia recebido, na véspera, 50 caixas de álcool em gel e só dispunha de cinco delas. Ele me vendeu dois frascos de 400 ml a R$ 19,90 cada um e me contou que farmácias da região tentavam comprar dele para ver cada unidade a R$ 40.
Sobre as máscaras cirúrgicas, o dono da lojinha me disse que caixas com 100 unidades já estão sendo vendidas a R$ 110. Há poucas semanas, o preço não chegava a R$ 40.
O que tudo isso mostra? Mostra que, infelizmente, há um monte de gente tentando se aproveitar de uma situação muito, muito difícil para ganhar dinheiro. Sem a menor, a mínima preocupação com as pessoas e, principalmente, com gente de menor poder aquisitivo para quem um frasco de álcool em gel a R$ 40 ou R$ 50 é proibitivo.
É um abuso, mas infelizmente isso sempre acontece em crises de abastecimento. Parabéns ao dono da lojinha e outros que, como ele, trabalham para ganhar o justo sem se aproveitar de uma situação difícil para ganhar uns trocos a mais.
Dúvida
Para terminar, uma dúvida. Gostaria de saber se a Prefeitura de São Paulo está tomando ou estudando tomar medidas para amparar os moradores em situação de rua nesta pandemia de coronavírus.
Na calçada do Parque Trianon, há muitos deles, que vivem nas piores condições de higiene, em pequenas barracas que ficam muito perto umas das outras. Imagino que não seja sempre que tenham o que comer ou como se manter limpos. Alguns deles são usuários de drogas ou de álcool e, certamente, devem ter a saúde bastante prejudicada. O que me faz concluir que, talvez, estejam no grupo de risco para o contágio do vírus.
Imagino – com uma boa dose de certeza – que moradores em situação de rua não tenham acesso às unidades de saúde, a medidas preventivas, nada disso. Será que não é uma obrigação da Prefeitura exercer esse papel? Até como forma de evitar o contágio?
De verdade, não sei se isso já não está sendo feito. Mas, me chama a atenção o fato de haver, lá mesmo na calçada, uma base móvel da Polícia Militar. Os policiais se reúnem todos os dias lá antes de saírem para as rondas na avenida Paulista. Quem está correndo risco?