A Inteligência artificial pode acabar com seu emprego e o jornalismo está na mira, por Beth Guaraldo
Institutos de pesquisa e consultorias globais vêm alertando: até 2030, algumas profissões poderão deixar de ser ocupadas por humanos e realizadas por robôs. Este é o caso, por exemplo, dos pilotos de avião, anestesistas, analistas de investimento, financeiros e de risco, engenheiros de software, contadores, auditores e….. jornalistas.
A pergunta, claro, é: isso será mesmo possível? No caso de jornalistas, não só será, como, aliás, já é. Os especialistas justificam a previsão dizendo que escrever não é um problema para a inteligência artificial, e lembram que desde 2014 a Associated Press usa softwares inteligentes para escrever relatórios de faturamento.
No ano passado, The Guardian informou que o site MSN-Microsoft substituiu parte de seus jornalistas por sistemas de IA. E isso é uma tendência do setor de mídia, como revela o Relatório Digital News Project: Journalism, Media and Technology Trends and Predictions 2021, publicação do Reuters Institute e da Oxford University.
O estudo mostra que 69% dos entrevistados acreditam no protagonismo da IA em curadoria, produção e distribuição de conteúdo nos próximos anos. No futuro nada distante, espera-se que os sistemas inteligentes serão responsáveis por gerar parte dos textos. No New York Times, a seção Comentários é moderada por 14 jornalistas que revisam mais de 11 mil comentários diários. Isso vai mudar e passar a ser feito pelo sistema de IA criado pela Jigsaw/Alphabet.
Mas, nem tudo está perdido. Enquanto isso acontece, o movimento de entrega de conteúdo personalizado com base no perfil do leitor cresce. A inteligência artificial poderá se tornar uma assistente do jornalista nesse campo, o que já ocorre, por exemplo, na Forbes com o Bertie, sistema agregador de notícias e sugestão de conteúdo, ou o Heliograf, do The Washington Post, que pode gerar textos a partir de dados quantitativos, bem como o Cyborg, da Bloomberg, que cria e gerencia conteúdo.
O que se espera é que a IA identifique padrões e fatos em grandes bases de dados, cabendo aos jornalistas algo em que são imbatíveis: fazer perguntas, avaliar relevância e entender o contexto.
Uma conferência sobre o assunto, realizada em maio deste ano pela Federação Europeia de Jornalistas, mostrou os desafios a serem enfrentados: o uso da IA potencializa o risco de aumentar a lacuna entre a grande e a pequena mídia; e a necessidade de qualificar ou requalificar os jornalistas no uso de dados. Sem contar, como seria de se esperar, os desafios éticos.