Jornalismo imparcial?
Para começar, vale conferir a definição de imparcial: 1) que se abstém de tomar partido ao julgar ou ao constituir-se em julgamento, que julga sem paixão; 2) que não sacrifica a verdade ou a justiça a considerações particulares – toda atenção a essa segunda explicação.
Imparcialidade na apuração, ouvir os dois lados de uma história, não emitir opinião própria, exceto em artigo assinado. Isso foi o que sempre ouvi na faculdade de jornalismo que terminei há muitos anos. Jamais exerci a profissão, pois me voltei para a comunicação corporativa. Essas ‘’máximas’ sempre foram verdade para mim e significam a boa prática da imprensa.
Já faz alguns anos que o Brasil está polarizado, é o ‘nós’ contra ‘eles’. Se a esquerda está no governo, a direita ‘reclama’. Se a direita ocupa o poder, é a vez de a esquerda fazer o mesmo. Ok, faz parte do jogo e as redes sociais têm contribuído bastante para isso. Todos temos nossas predileções, políticas ou não. Mas, já faz um tempo – e isso vem piorando -, a imprensa entrou, digamos assim, no ‘jogo’ e passou a tomar partido. Não que isso nunca tenha acontecido. Não é isso. Sempre aconteceu, talvez, quase certamente por interesses econômicos. Tá, eu sei que estou chovendo no molhado!
Então, veículo de comunicação falar em isenção e imparcialidade é quase uma piada. E tem quem pregue isso. Não existe, não tem como existir. Os veículos são empresas, têm sua linha editorial que agrada a seus leitores, mas não a todos. O jornalista é um ser humano, com seus valores, crenças. Qualquer que seja a apuração que ele vá fazer, suas convicções entram em cena com ele.
É simples: se cinco jornalistas forem escrever sobre o mesmo assunto, as matérias terão tons diferentes. Ao escolher a quem entrevistar, o veículo e o jornalista, de certa forma, já deixaram de lado a imparcialidade. Vão ser escolhidas fontes afinadas com a linha do veículo. Na hora de escrever, anote, cada um deles vai priorizar o que julgar mais importante. É a opinião, ainda que ‘disfarçada’, entrando em cena.
Mas, acredito – e, certamente, sou um anacronismo – que, por um dever de justiça, os veículos e os jornalistas deveriam perseguir a imparcialidade, a isenção. Até porque a imprensa é formadora de opinião, influencia a sociedade – hoje talvez não tanto quanto há tempos atrás. Ela tem responsabilidade sobre o que publica, porque isso pode prejudicar pessoas e instituições. Basta lembrar do episódio da Escola de Base, ocorrido em 1994 quando os donos da escola foram acusados, por mães, de abuso sexual contra seus filhos. A imprensa cobriu largamente esse assunto e a reputação de todos foi para a lama.
As pessoas não são idiotas. É bom que se entenda isso. É só ver o repúdio que sofreu a revista Veja depois da parceria com o site The Intercept. Bem que eu gostaria de saber de quanto foi a queda nas assinaturas da publicação e da venda em banca. Essa atitude teve consequências econômicas, disso ninguém duvida.
O jornalismo tem – e sempre teve – um papel fundamental na sociedade: o de buscar a verdade, revelar o que está errado, dar voz a quem não consegue ser ouvido, mostrar as injustiças, as falhas. Mas, deveria fazer isso de forma transparente, sem envolver seus próprios interesses na apuração de uma história. Utopia? Sem dúvida alguma! Mas algo a ser sonhado.