Afinal, somos pessoas físicas ou jurídicas?
Há muitos anos, quando as redes sociais começaram a se tornar mais e mais populares, passamos a alertar os clientes da agência onde eu trabalhava sobre os cuidados que deveriam tomar para não serem expostos negativamente. Nos treinamentos, eu costumava fazer uma brincadeira e dizia: “Imagine a cena. Você está saindo de um restaurante tarde da noite e tropeça na calçada. Alguém que conhece você fotografa esse tropeço e publica em uma rede social. Qual vai ser a leitura? Que você tropeçou simplesmente ou tropeçou porque bebeu demais?”.
Com essa brincadeira, eu costumava dizer aos clientes que não éramos mais simplesmente pessoas físicas. Mas, pelo fato de estarmos ligados a uma empresa, acabamos nos tornando pessoas jurídicas. Era bastante comum a referência à empresa na qual trabalhávamos, quase como um complemento de nosso nome e sobrenome.
O impacto de um erro, de um tropeço simplesmente ultrapassaria as barreiras da pessoa física e recairia, com toda força, sobre a pessoa jurídica, a empresa onde trabalhávamos.
Não são poucos os casos de profissionais que fazem comentários inadequados, muitos dos quais contrariam as políticas de seus empregadores, e que acabam perdendo seus empregos.
A grande questão disso é que não podemos mais – sem sofrer consequências, às vezes graves – emitir opiniões pessoais sobre quaisquer assuntos porque elas vão extrapolar para o corporativo.
Se alguém diz que não concorda com isso ou aquilo, que tal coisa é um exagero, a opinião deixa de ser apenas dele ou dela, porque a leitura que vão fazer é que essa é a opinião da empresa. O que é um absurdo, até porque empresas não pensam, não tem opinião. As pessoas têm e deveriam ter o direito de dizer o que pensam desde que, claro, respeitem as leis estabelecidas.
Então, o que fazer? Deixar de emitir uma opinião pessoal sobre qualquer assunto, ainda que minimamente controverso? Ou arriscar, falar o que se pensa e esperar que as (eventuais) críticas recaiam apenas sobre a pessoa, mas não sobre a empresa? E como administrar as consequências, que podem chegar a ser, por exemplo, perda de clientes?
Não tenho a resposta. E acho pouco provável que alguém tenha. Mas, é uma pena que, possivelmente, estejamos perdendo a oportunidade, em função do temor, de conhecer opiniões diferenciadas, inusitadas, fora da caixa e que poderiam nos ajudar a pensar de outra forma!