A fonte agora escreve para a imprensa?
Nesta era da influência digital, do marketing de recomendação, das fake news, mais uma novidade. Ela foi anunciada semana passada. É a criação da Agência Einstein, da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, que, segundo o Meio & Mensagem, vai “disponibilizar oito matérias semanais, entre reportagens, entrevistas, fotos e infográficos sobre saúde, ciência e bem-estar para veículos de comunicação”.
Citando o Dr. Sidney Klajner, presidente da organização, a matéria diz que: “A criação dessa agência é importante para fornecer informações factuais validadas por diversas fontes do nosso hospital. Podemos fomentar nas diferentes mídias informações corretas sobre saúde”.
Vale lembrar que agências de notícias são empresas jornalísticas que vendem informações e notícias diretamente para os veículos de comunicação, que as repassam para o público em geral.
Portanto, até chegar ao público final, há duas organizações de natureza inteiramente jornalística – a própria agência e os veículos como jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, além de sites, na intermediação da notícia e que utilizam critérios jornalísticos.
No caso em questão, uma empresa de saúde, fonte de informações, se ‘torna’ uma empresa jornalística. Passa a ser agência fornecedora de notícias para os veículos distribuírem para o público final e, ao mesmo tempo, é veículo e fonte.
Assim que li a novidade, enviei o link para uma amiga com quem sempre gosto de trocar opiniões sobre nosso mercado de atuação. Com senso crítico agudo, ela me respondeu com uma pergunta: “A fonte vai controlar os conteúdos? ” E completou: “A notícia agora não tem curadoria jornalística”.
É bem isso. Estamos vivendo ‘tempos estranhos’ no jornalismo e essa agência é bem a prova disso. A fonte agora passa a escolher e gerar conteúdo pronto para os veículos. Não é nem brand publishing. As marcas, hoje, são produtoras de conteúdo, mas para seus consumidores. É uma forma de estreitar o relacionamento com eles, oferecendo informação relevante e que, realmente, faça a diferença.
Sim, cabe lembrar que a Agência Einstein contratou três jornalistas especializados na área de saúde que trabalhavam na imprensa, mas, ainda segundo o Meio & Mensagem, “médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais técnicos do Einstein serão porta-vozes e validadores das informações transmitidas pelo time de repórteres”.
Então, é preciso saber: Isso é uma tendência? As empresas e organizações não-governamentais passarão a ‘ditar’ as informações a serem publicadas pela imprensa, em vez de serem fontes para as matérias que os veículos apuram e publicam? E quem vai garantir a isenção? Neste ritmo, qual é o futuro do jornalismo, um dos pilares da democracia?