Cuidados paliativos: melhorar a qualidade de vida em vez de prolongar o sofrimento

O que fazer quando uma pessoa muito, muito querida sofre de uma doença incurável? Prolongar a vida a qualquer custo ou aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida do paciente, por meio de cuidados paliativos? Não é uma decisão fácil para a família e nem para o doente, se estiver em condições de decidir o que quer para si mesmo.

Nos últimos anos, tenho percebido que a opção pelos cuidados paliativos tem crescido muito. E mais ainda: de, chegada uma certa idade, evitar exames médicos e até mesmo os tratamentos que vierem a ser necessários. Várias pessoas comentaram essa possibilidade.

Um amigo teve um ano extremamente difícil. Passou por duas cirurgias – uma das quais em razão de um câncer. Ficou muito tempo no hospital por causa das operações e, depois de sair, passou maus bocados e perdeu mais de 20 quilos. Ele nunca desistiu, nem por um único minuto. Fez todos os tratamentos recomendados, tudo o que os médicos mandaram. Agora que está bem melhor, embora não 100% em forma, vai ter de fazer uma nova e demorada cirurgia, felizmente não por causa de câncer.

Claro que tudo o que aconteceu com ele nos fez a todos pensar a mesma coisa: “O que eu faria se estivesse no lugar dele?”. Há quem jure que não passaria pelo ele passou, que desistiria no meio do caminho e, em vez de cirurgias, se decidiria por cuidados paliativos. Há quem, como ele, faria de tudo para melhorar. Há ‘vantagens’ e ‘desvantagens’ de ambos os lados. Mas é uma decisão que cabe a cada um.

De toda forma, para mim não existe a menor dúvida sobre o que decidir, em caso de doença incurável. Os cuidados paliativos proporcionam qualidade de vida, conforto e alívio do sofrimento do paciente que, na minha opinião, não deve ser mantido vivo a qualquer custo, de qualquer forma. Mas, isso é o que eu penso.

No site do Dr. Drauzio Varella, encontrei essa interessante entrevista sobre cuidados paliativos. Lá está escrito: “O especialista trata do doente e não mais de sua doença. Olhando suas necessidades e sintomas não só do ponto de vista físico, mas também do ponto de vista emocional, social e espiritual. Estende, ainda, o olhar sobre a família durante o tratamento e presta-lhes assistência depois da morte, no período de luto”.

No website da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, estão explicados os princípios do cuidado paliativo, que são:

  • Promover o alívio da dor e de outros sintomas
  • Afirmar a vida e considerar a morte como um processo natural
  • Não acelerar nem adiar a morte
  • Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente
  • Oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível, até o momento de sua morte
  • Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto
  • Promover a abordagem multiprofissional para focar nas necessidades do paciente e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto
  • Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso de vida

Quem não quer ter sua vida prolongada desnecessariamente deve pensar em um testamento vital. Ele pode ser feito por “qualquer pessoa com discernimento, civilmente capaz, com o objetivo de dispor sobre os cuidados, tratamento e procedimentos a que deseja ou não ser submetida quanto estiver com uma doença ameaçadora da vida, fora de possibilidades terapêuticas curativas e impossibilitado de manifestar livremente sua vontade”, como informa o site Testamento Vital.

O documento deve ser preparado com a ajuda de um advogado e deve informar quais tratamentos, procedimentos e cuidados de saúde a pessoa deseja ou não. É recomendável, para dar mais segurança jurídica ao documento, lavrar uma “escritura pública com o tabelião de notas”, o que vai garantir efetividade, como explica o site. Uma vez pronto o testamento vital, é bom informar a família, deixá-lo com alguém de confiança e pedir ao médico para anexá-lo ao prontuário.