Educação no ambiente corporativo não pode ser confundida com submissão, por Valéria Wilson

É interessante como diferenças culturais e de background podem levar a interpretações nos relacionamentos. Aqui, falo especificamente das relações no ambiente empresarial, o que pode gerar desconforto e suposições ou, como já é possível entender, até distorções.

Recebi o CEO, de origem anglo-saxã, da empresa que represento no Brasil para uma visita de poucos dias, durante os quais, entre os vários assuntos abordados, ele me perguntou se eu não percebia como submissão solicitar a uma pessoa permissão para acessá-la pelo WhatsApp.

Esse aplicativo é uma ferramenta muito utilizada em países onde a informalidade permeia também o ambiente corporativo. Ainda assim, e por serem telefones pessoais, vejo como indicado solicitar um Ok para acessar um cliente, colega de trabalho ou fornecedor pelo WhatsApp. Eu mesma trato meu aplicativo desta forma sempre que possível.

Não tenho a intenção, aqui, de definir etiqueta na utilização desta ferramenta (ainda que eu acredite que isso seria interessante), mas sugerir que conclusões e decisões sobre perfis são tomadas a partir de visões incompletas a respeito de comportamentos.

Ouvi ainda desse CEO que a mulher brasileira não quer ser ou parecer homem no ambiente de trabalho, o que percebi como um elogio, mas não busquei esclarecer. Afinal, a força do feminino é outra e compõe muito positivamente quando equilibrada com a força masculina. Ambas são importantes e independem do gênero do autor. O conteúdo adequado, no momento errado, da forma errada e no canal errado acaba errando.

Trabalhei com diferentes culturas e cada uma delas tem sua maneira peculiar de se apresentar e de perceber as outras, assim como a nossa. Acrescente-se a isto a formação pessoal de cada um. Ainda refletindo sobre como fui percebida e até classificada pelo CEO neste caso específico, encontrei um artigo da autora inglesa Lucy Foley que, cansada de ser percebida como submissa por suas maneiras gentis, lançou-se na carreira de escritora para desmistificar os estereótipos, escrevendo sobre personagens femininas difíceis, como as chama. O texto foi publicado na edição de abril da revista Vogue.

Em minha forma de ver, a polidez é uma força e não submissão em ambiente recheados de personalidades falsamente fortes, por trás de atitudes grosseiras, de abordagens pretensamente intimidadoras. E até de assédio moral.

É interessante o meio corporativo investir tanto em inovação e ainda ‘comprar’ essa obsolescência, sem perceber a força por trás do autocontrole da polidez e de seu impacto muito positivo em ambientes tão agressivamente competitivos.

Pensar que ser difícil nos faria ser ouvidas… bem, este é o tópico para um novo artigo.

Valéria Wilson, formada em design e pós-graduada em marketing, atua no setor de movimentação de carga líquida alimentícia. Tem experiência também no mercado de luxo e B2B, como gerente de marca e de marketing de empresas multinacionais.