Jura, deputado???????

Eu sempre imaginei, do alto da minha ignorância, que os integrantes do Congresso Nacional têm assuntos bem mais importantes e urgentes para propor, votar e opinar. Mas, estou enganada.

Prova disso é o projeto de lei 5412/20, de autoria do deputado Heitor Freire (PSL-CE), que pede o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção para enfrentar a covid-19. A explicação do nobre deputado é que, com isso, pretende “preservar as liberdades individuais e estimular o voluntarismo e o direito do cidadão de fazer suas próprias escolhas”. E diz mais: “A revogação busca combater a postura acomodada e tirana estatal de obrigar a população e os setores produtivos ao poder de ‘cumpra-se”.

Guardadas as devidas proporções, se a moda pega, caso alguém decidir, por exemplo, dirigir embriagado estará preservando suas liberdades individuais e fazendo suas próprias escolhas? Sim, é isso, estará descumprindo a lei e ligando um “que se dane” aos outros. E cadê o direito do outro que porventura esteja atravessando uma rua e seja atropelado por esse alguém embriagado ao volante?

O mesmo se aplica às máscaras. Se alguém com covid, assintomático, sem máscara contaminar outra pessoa não estará ferindo seu direito de se manter saudável e viva?

Parece bem antigo, mas acredito nisso: meu direito acaba quando começa o seu. Não dá para ninguém sair fazendo o que bem entende acreditando que tem direito a preservar suas liberdades e fazer suas próprias escolhas. Isso é possível se as consequências recaírem apenas e tão somente no autor dessas ações.

O nobre deputado fez suas próprias escolhas, mas não pensou nas consequências. A exemplo dele, estamos cansados na inépcia, ineficiência, descaso de membros dos governos federal, estaduais e municipais. A pandemia está longe de ser controlada, o processo de vacinação está longe de atingir todos os brasileiros. Portanto, usar máscara, manter o distanciamento social e higienizar as mãos com frequência são nossas únicas armas contra o coronavírus.

Propor o fim da obrigatoriedade de quaisquer dessas medidas é insanidade, falta de empatia, descaso com a saúde e a vida dos outros. Que o nobre deputado não tenha de passar pela difícil situação de ver um familiar querido gravemente doente ou morto porque uma pessoa com covid decidiu preservar suas liberdades individuais e fazer suas próprias escolhas.