Mãos ao alto: isto é uma lanchonete de aeroporto!!! por Marco Antonio Catai

Quando eu era garoto, lá pelo começo dos anos 1960, uma viagem aérea era um acontecimento social. Ninguém subia num avião se não vestisse terno e gravata. E as mulheres, seus melhores vestidos, chapéus e até estolas de pele.

As passagens eram caras, principalmente nas asas da Panair do Brasil, que abriu os primeiros voos para a Europa com seus luxuosos Constellation. Família e amigos acompanhavam os viajantes ao aeroporto de Congonhas, para se despedir em grande estilo, mesmo que o destino fosse o Rio de Janeiro, nos Electras da Varig.

Meu pai tinha uma madeireira em Mato Grosso e fazia regularmente a rota Londrina/São Paulo. O avião era um Douglas DC-3, da Real Transportes Aéreos, que tinha só uma rodinha na traseira e parecia que ia bater a bunda no chão. E o mais gostoso da viagem era a “refeição” oferecida a bordo: uma caixinha de papelão que tinha dentro dois copinhos de papel; um com maionese de batata e cenoura e outro com doce de leite. Eu esperava ansiosamente o desembarque do meu pai para colocar a mão naquele tesouro.

Paulistano não tinha mar próximo. Por isso, o terraço aberto de Congonhas, que hoje não existe mais, era a praia da gente. Nos fins de semana ficávamos horas vendo pousos e decolagens. Quando tive idade para dirigir, não teve uma garota que não levei para tomar café no aeroporto. O caminho do coração delas passava pelo cafezinho de Congonhas.

Que eu me lembre, naquele tempo o que se tinha em Congonhas era um restaurante chique no terceiro andar, com ampla visão da pista, e o café, onde também se podia comer um sanduíche no balcão. Nada mais.

Essas boas lembranças me vieram enquanto eu esperava o embarque para João Pessoa, pouco antes do final do ano passado. E a agradável sensação que me provocavam foi quebrada pelo susto de pagar R$ 50,00 por dois pães de queijo, duas latas de refrigerante e dois cafés!!!

Perguntei à caixa se não havia nenhum engano. “Não senhor. Sete reais cada café, oito o pão de queijo e dez a lata de refrigerante”, respondeu. Pensei cá comigo: “nem restaurante cobra isso por uma coca-cola; e sete reais num café é preço que eu pago sentado à mesa e servido por garçon”. Do pão de queijo, então, nem vou falar.

Um painel acima do balcão anunciava um chopp de 350 ml por “módicos” R$ 16,00, três vezes mais do que lanchonetes renomadas cobram pela mesma bebida na chamada “happy hour”. “Ah, o senhor sabe, em aeroporto tudo é mais caro”, disse a balconista.

Embarquei com uma leve sensação de ter sido vítima de gatunos. Na volta, confirmei a desconfiança. Congonhas tem uma lanchonete popular que pouquíssima gente sabe que existe!!! Lá, o mesmo pão de queijo custa R$ 4,50; a lata de refrigerante, R$ 5,00; o café, R$ 4,50 e aquele chopp de R$ 16,00 sai por R$ 8,00.

Ela fica escondida no subsolo, bem longe do saguão, onde estão as outras lanchonetes e mais longe ainda dos balcões de checkin. Só passa por ela quem vem do estacionamento e mesmo assim sem saber que o local tem preços mais em conta. E a única indicação é uma pequena placa em que se lê “lanchonete popular” no alto de uma escada rolante, localizada depois que se passa por ela. A maioria das pessoas com quem conversei não sabia da existência da lanchonete popular. Parece até que a Infraero quer esconder sua existência. Será?