O difícil diagnóstico do Transtorno de Personalidade Borderline, por Beth Guaraldo

Faz alguns dias encontrei uma amiga a quem não via havia muitos anos. Porque amigos são assim, retomamos a conversa do ponto em que tínhamos parado. Fiquei imensamente feliz de revê-la, mas chocada com as notícias que ela me deu sobre a filha, uma jovem mulher prestes a entrar na faculdade.

Quando estava no início da adolescência essa menina começou a ter variações enormes de comportamento, que a levaram a quase se matar doze vezes. Foi uma luta enorme descobrir o que, afinal, ela tinha. Depois de passar por consultórios e clínicas, mãe e filha acabaram descobrindo que o que a acometia era o Transtorno de Personalidade Borderline, que afeta mais o sexo feminino e os jovens.

De acordo com essa minha amiga, a filha se machucava, o que, algumas vezes, chegou bem perto do suicídio. Segundo o psiquiatra que, finalmente, elas encontraram e que descobriu o que a menina tinha, a mutilação, no caso dela, não tinha o objetivo de tirar a própria vida, mas de fazer sumir a enorme dor mental e emocional que ela sentia.

Mais de seis anos se passaram. Hoje, a jovem está perfeitamente bem, faz terapia e pensa até em mudar de cidade para estudar. Mas, minha amiga fez, durante todo esse processo, algumas descobertas alarmantes. A primeira delas é a falta de profissionais e clínicas psiquiátricas especializados no atendimento e tratamento a crianças e adolescentes no País. Segundo ela, o número de especialistas em infância e adolescência é muito baixo considerando-se as dimensões do País. A oferta de leitos para internação é ainda pior.

A segunda descoberta é a dificuldade do diagnóstico, em razão, claro, do baixo número de psiquiatras que conhecem a doença e são capazes de descobri-la. Felizmente, elas tiveram sorte e conseguiram tratamento para o transtorno que, segundo estudos, atinge até 6% da população mundial.

Mas e que não tem essa sorte??