Os moradores de rua e o inverno

Eu gosto muito do frio, do inverno. Isto porque tenho uma casa, uma cama macia com bons cobertores e roupas quentes. Mas, me entristece ver – como vejo todo dia quando saio cedo para caminhar – as pessoas em situação de rua. Aqui, na rua Pamplona e avenida Paulista, encontram-se várias dessas pessoas.

Em um prédio da Pamplona, que tem uma galeria de lojas embaixo da entrada do edifício, dormem, todos os dias, pelo menos uns dez moradores de rua. Boa parte deles é de artesãos que vendem seus produtos pelas redondezas.

Na Paulista, eles se concentram do lado de fora do Parque Trianon. Lá é muito frio, sopra um vento daqueles nos dias gelados de inverno. Nesse mesmo local, fica uma base móvel da Polícia Militar, que só pode mesmo olhar. Jamais intervir, pedir para eles deixarem o local. Os policiais só podem interferir se estiverem agindo contra a lei.

É de cortar o coração vê-los encolhidos, dormindo sobre papelão, com cobertores – quando existem – fininhos. Alguns têm um pouco mais de ‘sorte’ e dormem em pequenas barracas. Costumamos nos cumprimentar quando chego ao parque. Nesta calçada, duas vezes por semana, fica uma senhora um tanto idosa, sentada nos degraus sobre um papelão também, pedindo esmolas. Mais recentemente, um senhor engraxate também se instalou por lá. Não sei dizer se ele consegue trabalho. Nunca o vi fazendo isso. Talvez por ser muito cedo.

A Prefeitura, de acordo com matérias publicada na imprensa, estima que hoje existam cerca de 25 mil moradores de rua. É muita gente, muita gente mesmo. Nos dias gelados de inverno, eles podem ir para abrigos. Desconheço se há vagas para todas essas pessoas. Muitos não querem ir. Muitos, como já vi acontecer, reclamam da demora da perua de remoção. E nisso não estão errados: um dia, ao chegar ao parque, por volta das 7h, vi a perua de remoção por lá, parada. Não sei com que objetivo.

Esse é um problema de difícil solução. Essas pessoas não têm emprego, talvez nem tenham qualificação específica, e, portanto, não têm casa, comida. A maioria nem família tem ou se tem está perdida para eles, talvez por causa das drogas.

A cena de seres humanos dormindo no chão ao relento em pleno inverno é chocante. Tenho um amigo que tinha uma ONG para cuidar dessas pessoas. Fui ajudar algumas vezes. O que mais me comovia era a gratidão deles quando parávamos para ouvi-los, para escutar as tristes histórias de suas vidas. Lá eles recebiam um lanche e uma roupa, se precisassem. Era pouco o que se podia fazer. Agora nem isso, porque sem apoio a ONG fechou.

Será que algum dia não haverá mais gente precisando dormir nas ruas, sem emprego, sem casa, sem dinheiro, sem família? É o mínimo que qualquer pessoa precisa, mas entregar os pontos, ou entregar-se às drogas, também não é forma de resolver o problema.