Sobre o que cada um faz da própria vida
A calçada em frente ao Parque Trianon, em plena avenida Paulista, é moradia de várias pessoas. Sem entrar no mérito de sua triste e lamentável situação, esses moradoras representam, de uma forma ou de outra, um microcosmo do universo e mostram o que cada um é capaz de fazer com sua própria vida. Aí entram tendências, sentimentos, caráter, temperamento, força pessoal, enfim todos os componentes que nos tornam quem somos.
Lá, existe um senhor que me chama muito a atenção e de forma extremamente positiva. Ele é engraxate ou exerce essa atividade agora. Todos os dias, quando chego ao parque para a minha caminhada, ele está montando seu ambiente de trabalho. Ele tem uma cadeira alta, como a de todos os engraxates, que ele coloca um pouco à frente de sua barraca, que já foi devidamente organizada. Ele tem um rádio, que ele coloca ao lado da cadeira, e escolhe músicas.
Hoje, vi uma estante de sapatos perfeitamente em ordem e, me pareceu até, bem engraxados. Já vi livros em sua barraca. Tudo deste senhor está sempre perfeitamente arrumado, incluindo sua aparência pessoal.
Não sei que circunstâncias levaram esse senhor à situação de morador de rua. Mas, chama a atenção e é admirável ver o que ele faz de sua própria vida. Ele busca trabalho, oferece um agradável ambiente para seus clientes – não sei se os tem, mas gostaria muito que tivesse -, mantém-se sóbrio, pelo que se pode perceber, gosta de ordem e limpeza, o que é quase impossível na rua.
São seus companheiros de calçada várias outras pessoas. A maioria, novamente pelo que parece, está em situação bem lamentável. Estão lá, largados, conversando, muitas vezes em companhia de uma garrafa ‘suspeita’.
Tudo isso para mostrar o que as pessoas são capazes de fazer consigo e com suas vidas. A circunstância de todos é, aparentemente, a mesma: estão na rua, não têm moradia, nem trabalho. Uns vão levando como dá, alguns devem beber ou usar drogas – vai lá saber -, estão em péssimas condições físicas, sujos. Parecem nada fazer para mudar sua condição.
Um outro – e naquele local é o único – está fazendo o melhor que pode naquela situação, busca o caminho que surgiu para melhorar suas circunstâncias pessoais, que eu desejo, verdadeiramente, que sejam temporárias.
Não sei se o que o move é a crença de que pode ir em frente e melhor suas condições; se é seu temperamento ‘empreendedor’, surgido depois do que o levou para a rua. Seja o que e como for, ele é um exemplo de que nada precisa ser o que é e como está, tudo pode mudar se formos capazes disso, se tivermos dentro de nós o espírito de luta, a vontade de fazer diferente. A crença em nós mesmos.
Sensacional Beth.Sensibilidade,riqueza de detalhes,com seu texto,consigo imaginar o ambiente,as pessoas,enfim a triste e realidade da vida,mas com um pouco de esperança que podemos tentar mudar e não se entregar.
Oi, Vavá, tudo bem?
Há quanto tempo!!
Obrigada pela gentileza do seu comentário. Fico feliz que tenha gostado