Autoridades paulistas versus PCC: quem colocará o outro na parede? Por Eduardo Marini

A Polícia Militar de São Paulo apreendeu, dias atrás, cartas de líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) com planos para matar o promotor Lincoln Gakiya e o coordenador de presídios Roberto Medina. Os textos, codificados, estavam com duas mulheres que visitaram seus companheiros em presídios de Presidente Venceslau, no oeste paulista.

Nesta sexta 16, o Grupo deAtuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e o setor de inteligência do Ministério Público (MP) paulistas revelaram que a lista é maior.Inclui, até onde se sabe (e tomara que já se saiba tudo), outros três nomes: o secretário de Administração Penitenciária, Lourival Gomes, o deputado estadual Coronel Telhada (PP) e o ex-secretário da Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto.

A intenção do PCC é fazer as autoridades paulistas desistirem de transferir 15 integrantes da facção, entre eles o chefe maior, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para presídios federais. Detido na P2 de Venceslau, Marcola é o único grande líder preso da fação ainda fora de prisões federais.

O pedido de transferência,aprovado pela Justiça em 21 de novembro, foi motivado pela descoberta de um plano de R$ 100 milhões para invadir a P2 e resgatar Marcola e outros integrantes da facção.

Por que lembro o leitor estimado desses fatos? Por motivos no mínimo – mas no mínimo mesmo – preocupantes. Conheci uma autoridade de grosso calibre da segurança pública paulista na segunda 17. Com a condição de ter a identidade preservada, ela confirmou que grande parte de seus colegas, líderes do governo estadual e integrantes do Legislativo consideram bastante concretas as chances de ocorrerem ataques do PCC caso as transferências sejam concretizadas.

Mas com uma diferença em relação ao “salve” liderado pela fação em maio de 2006. Apesar de ameaças localizadas a guardas municipais, seguranças, policiais civis e familiares, no“salve”, episódio que virou até filme de sucesso, os atacados foram, sobretudo,policiais militares em ação nas ruas, cabines, delegacias e presídios.

Agora, como destaca a fonte e fica claro nas listas e bilhetes do PCC, os alvos principais da facção não seriam os do combate no asfalto, mas sim grandes autoridades do estado.

Em uma conversa na manhã de terça 18, um amigo jornalista cheio de fontes graduadas na área confirmou a situação. Acredita que as ameaças contribuíram para que as transferências, mesmo autorizadas pela Justiça desde 21 de novembro, ainda não tenham sido efetuadas. “Todos estudam situações e circunstâncias mais apropriadas para fazê-las, o que é compreensível”.

O amigo jornalista destaca ainda que a preocupação se amplifica entre eles diante do temor que algo possa acontecer com seus familiares. Temem que, a exemplo de 2006, os “soldados” do PCC não dimensionem riscos, inclusive o de perder a vida, ao tentar gerar vítimas ou estragos pessoais e familiares para as autoridades.

Não há sinal oficial ou aparente de que as justificadas preocupações levarão a recuos ou mudanças de rumo. Mas a existência de uma facção praticamente onipresente no estado, com ramificação pelo País, forte e rica o suficiente para desafiar a máquina do estado e força policial oficial, com ameaças contra a vida de autoridades e eventualmente de seus familiares, não deixa de ser um drama pesado para todos.

Se grandes figuras, como seus aparatos de segurança, estão preocupadas com as ameaças, o que pensar de nós, integrantes de uma sociedade cada vez mais desprotegida?