Eu nunca vou saber porque eles vieram para o Brasil

Acho que isso acontece em todas as famílias. Alguém sempre vai acabar se responsabilizando por alguns ‘abacaxis’. No caso da minha, por razões que nem me lembro mais, me tornei responsável por ‘administrar’ o túmulo dos meus ancestrais no Araçá. Sou como todo mundo, detesto cemitérios. Mas é lá que também está, de certa forma, escrita a história das famílias.

Faz uns meses, a pessoa que cuida de lá para nós – hoje, da família da minha mãe, só restaram uma irmã e nós, os primos – me avisou que todas as plaquinhas de identificação do túmulo haviam sido furtadas. Sim, existe isso. Eram de bronze e foram levadas. Há quadrilhas que as roubam em todos os cemitérios.

Por mais que eu seja responsável pelo túmulo, não posso resolver nada que envolva dinheiro sozinha. Fui informar meus primos. Alguns foram favoráveis a deixar tudo como estava – sem qualquer identificação. Não queria isso. Consegui convencer a todos e refizemos todas as ‘plaquinhas’, desta vez em granito.

O jazigo foi comprado pelo meu avô para enterrar uma de suas cinco filhas, que morreu com pouco mais de um ano, em 1924. A verdade é que, infelizmente, conheço pouco a história da família. Meus bisavós, oriundos da Ilha da Madeira, em Portugal, vieram com três dos quatros filhos para o Brasil no fim do século 19 e se estabeleceram em São Paulo. Apenas meu avô se casou e criou suas quatro filhas sozinho, pois minha avó se foi muito cedo, com apenas 36 anos. Suas três irmãs permaneceram solteiras. Do meu bisavô pouco sei. Tive a sorte de conhecer minha bisavó, mas mal me lembro dela.

Então, isso é em memória de cada um deles:

  • Maria Izabel e José da Silva Lopes, meus bisavós
  • Olga e José da Silva Lopes Júnior, meus avós
  • Galiana, Elmina e Carmelita Lopes, minhas tias-avós
  • Nair Lopes, Irene Lopes Robotton e Walkyria Lopes de Almeida, minhas tias
  • Fernando Robotton, meu tio
  • Sonia e Aldo Luiz Guaraldo, meus pais

Uma pena não ter tido tempo, oportunidade e iniciativa de conhecer melhor a ‘crônica’ da família, que imigrou para o Brasil no final do século 19 e aqui construiu sua vida. Por que eles fizeram isso? Não sei. Ouvi aqui e ali umas histórias que jamais vou conseguir confirmar. Mas, o que importa é que todos eles, de alguma forma, fazem parte de mim. E a passagem deles por esse planeta está marcada em granito. Das nossas lembranças apenas alguns fazem parte.