O Flamengo e o futebol brasileiro estão prontos para tamanha agressividade de mercado?, por Eduardo Marini

O Flamengo agita o futebol brasileiro nesse início de temporada com contratações milionárias e ofertas de salários estratosféricos.

Nesta segunda-feira 14, apresentou o meia uruguaio Giorgian de Arrascaeta (foto), que atuava no Cruzeiro, após uma negociação de 15 milhões de euros, aproximadamente R$ 64 milhões. Ao somar esse valor aos investidos em 45% dos direitos econômicos do zagueiro Rodrigo Caio, ex-São Paulo, e no empréstimo, por um ano, do atacante Gabigol, da Internazionale de Milão, percebe-se que o clube mais popular do Brasil investiu, até agora, impressionantes R$ 93 milhões em contratações para a temporada 2019.

E o rubro-negro não quer ficar por aí. Está praticamente certa a vinda do lateral direito Rafinha, do Bayern de Munique, para o próximo mês de maio, e o clube ainda promete mais um zagueiro de primeira linha e um lateral esquerdo.

Todos os reforços chegam com salários estratosféricos, alguns acima de R$ 1 milhão mensais, casos de Arrascaeta e de Gabigol.

Esse poder de fogo nas contratações é a parte mais visível da colheita de frutos após um trabalho exemplar de recuperação financeira realizado a partir de 2013, com a posse da equipe liderada pelo ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, que acaba de passar o bastão para Rodolfo Landim.

Na realidade endividada e perdulária do futebol nacional, poucos clubes souberam fazer o dever de casa, na questão financeira, como o Flamengo. Nos últimos sete anos, o clube reduziu suas dívidas totais de R$ 800 milhões para menos de R$ 300 milhões. Não bastasse, saiu de um faturamento bruto anual de R$ 212 milhões para R$ 765 milhões, valor previsto no orçamento de 2019.

Além disso, construiu o mais moderno centro de treinamento das Américas e turbinou os investimentos na divisão de base. Graças a isso, revelou recentemente craques como Vinicius Jr. e Paquetá, que renderam ao clube 80 milhões de euros (R$ 340 milhões) em venda de direitos econômicos.

Em resumo, o Flamengo atravessou, nesse curto período, a barreira aparentemente intransponível que o separava da condição de clube mais endividado à de mais rico do País. De acordo com a consultoria BDO, sua marca, a mais valiosa do futebol nacional, está cotada hoje pelo menos R$ 1,95 bilhão. Há sete anos, era metade disso.

Uma trajetória admirável para além de todas as dúvidas. Mas, ainda assim, uma questão resiste aos fatos e números positivos: estão o futebol brasileiro e o próprio Flamengo definitivamente preparados para gastos amazônicos como esses na contratação e pagamento de suas equipes?

A impressão é a de que o ímpeto dos dirigentes rubro-negros ao abrir o cofre nessa temporada parece um pouco exagerado.

Por mais elogios que mereça, a recuperação das finanças rubro-negras é recente. Além disso, a folha de pagamento será elevada a valores que talvez o clube tenha dificuldade de honrar se não surgirem outros craques para venda ou patrocínios mais robustos nos próximos meses e anos.

Por fim, o Flamengo e todos os outros clubes brasileiros ainda gastam percentuais assustadores de seus orçamentos líquidos com folha de pagamento, acima de 60%, 70% ou 80%. Em alguns casos, a rubrica supera até mesmo o total disponível. Ou seja: vermelho.

Resta torcer para que o rubro-negro consiga manter o desempenho e os outros encontrem caminhos semelhantes.

Por enquanto, pairam no ar o espanto diante dos gastos e a dúvida sobre a capacidade de manutenção dessa postura agressiva de mercado.

Que tudo dê certo a partir de agora – e as disputas sejam cada vez melhores em campo, o que, de fato, interessa.