Os ‘espertos’ (e lamentáveis) aproveitadores de tragédias, por Beth Guaraldo

Perco a fala quando fico sabendo de pessoas que usam as tragédias em benefício próprio. Isso aconteceu quando, ontem pela manhã, li a notícia da decretação de prisão preventiva de duas mulheres que tentaram se passar por moradoras vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) para receber a doação de 100 mil reais oferecida pela Vale.

Essa não é uma situação isolada. Bom seria se fosse. Quem não ouviu falar de empresários oportunistas que se aproveitam de catástrofes para aumentar o preço de produtos e serviços? De gente que saqueia lojas e supermercados? E dos advogados de ‘porta de cadeia’, que aparecem assim que a crise se instala para vender seus serviços a parentes desesperados? De dirigentes de clubes esportivos milionários que alojam suas jovens promessas em contêineres? Dos executivos de empresas responsáveis pelas tragédias como as que temos visto?

São adeptos da Lei de Gerson (ex-jogador de futebol) que, nos anos 70, ‘estrelou’ um comercial para a marca de cigarros Vila Rica e no qual afirmava: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”. Essas pessoas são o pior que a humanidade pode produzir e existem aos montes. E não só no Brasil.

Felizmente – e por mais que pareça o contrário – esse tipo de gente não é maioria. Basta ver o enorme número de pessoas que se desdobram para ajudar os outros, em tragédias ou fora delas. Os exemplos de solidariedade se multiplicam. Lembremo-nos dos bombeiros de Brumadinho que trabalharam – e ainda trabalham – incansavelmente. Da enorme quantidade de pessoas que se mobilizam em catástrofes de todos os tipos para angariar alimentos, remédios, roupas. Dos voluntários dos hospitais, que vão somar sua ajuda à dos médicos e enfermeiros. Dos dirigentes (sérios) das organizações não-governamentais interessados na solução dos problemas os mais diversos. Essas pessoas são muitas mais do que os aproveitadores de tragédias – caso das duas mulheres que só queriam ganhar uma doação de 100 mil reais sem ter direito algum a isso.

Fico me perguntando se, um dia, seremos ‘civilizados’ a ponto de jamais querermos prejudicar, nos aproveitar da desgraça alheia ou arriscar vidas pelo dinheiro! Quando coisas como essa acontecem, eu acredito que ainda vai levar muito tempo para isso.