“Transparência’ e Oportunismo, por Beth Guaraldo

Todo mundo que trabalha com comunicação sabe que, para administrar uma crise de imagem, é imprescindível agilidade e transparência absoluta. Até porque, nos dias de hoje, com a internet, mentir não é um bom negócio e ajuda (bastante) a destruir a reputação da empresa.

Têm a ver com transparência as duas declarações feitas na semana passada por presidentes de grandes empresas. A primeira, na verdade, não foi exatamente uma declaração – foi um comunicado de Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul, no qual ele aventava a possibilidade de a empresa deixar o Brasil, destacando que o prejuízo do período 2016-2018 não pode se repetir. Essa informação estava diretamente relacionada a uma declaração da presidente global da General Motors, Mary Barra, que, durante divulgação do balanço financeiro do ano passado, disse: “Não vamos continuar investindo para perder dinheiro”.

A história, claro, não parou por aí. Pois, de acordo com matéria da Quatro Rodas na internet (https://abr.ai/2HvIaUu), tudo não passaria de um blefe, de uma ameaça da empresa para forçar redução de custos e aumentar a rentabilidade. Parece que a estratégia está dando resultado, já que o governo do Estado de São Paulo está avaliando solicitação da montadora para antecipar créditos de ICMS.

A segunda declaração foi do presidente da Vale, Fabio Schvartsman, poucas horas depois do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), que ocorreu três anos depois da catástrofe de Mariana. Ao ser perguntado sobre as lições aprendidas com o desastre anterior, ele declarou: “Como vou dizer que a gente aprendeu se acaba de acontecer um acidente desses?”

Não é o caso de debater, aqui, as responsabilidades da tragédia humana de Brumadinho. O que chamou a atenção na fala do presidente da Vale foi, na minha opinião, a transparência, a clareza de ideias, o assumir que a lição anterior não foi aprendida. Como a empresa está e vai se comportar daqui para frente é outra história.

Mas, enquanto um – o presidente da Vale – quis demonstrar que estava sendo transparente ao dizer que, obviamente, a empresa não aprendeu nada com o episódio de 2015, o presidente da GM Mercosul – pelo que se pode inferir agora – está aproveitando o episódio para obter vantagens. Busca redução de custos e vantagens financeiras depois de ameaçar os funcionários de demissão e de deixar o Brasil.

Transparência dele? Não, de jeito algum. Oportunismo? É o que está parecendo. O que é absolutamente lamentável. Em minha opinião, uma empresa que se vale de blefes deste tipo para conseguir vantagens financeiras não merece respeito!