Parte 2 – Como você está enfrentando a quarentena?

Ontem recebi alguns outros depoimentos bem interessantes. Estão aí embaixo. Também resolvi incluir uma mensagem que recebi, faz mais de uma semana, de um amigo com quem trabalhei há vários anos e que hoje mora em Madrid. Embora não tenha a ver diretamente com a quarentena, está ligado, claro, ao coronavírus.

May: jornalista, produtora de podcasts, roteirista e locutora. “Entrei em quarentena praticamente no dia 17/3. Como já há tempos trabalho em home office, não foi muito difícil adaptar a rotina de trabalho, mas isso sob o ponto de vista ‘ prático’, pois há muitos outros aspectos que passaram a impactar no dia a dia, entre eles, é claro, a redução do ritmo profissional e a busca incessante por acompanhar e compreender tudo que está acontecendo.

Tenho lido todas as notícias, visto vídeos, depoimentos, avaliações etc., tentando compreender a dinâmica do mundo hoje, dos diferentes países e, sobretudo, a nossa. Como acredito que cada um na sua área de competência, tenho seguido à risca as recomendações dos especialistas, infectologistas do Brasil e do mundo, com grande atenção ao que preconiza a OMS, quanto aos cuidados pessoais, na casa, e também com as pessoas no entorno, no caso de prestadores de serviços, farmácias etc., lembrando que, sem eles, seria impossível simplesmente ficar em casa.

A preocupação é grande, um misto também de medo e apreensão com o que teremos pela frente, mas também um contato profundo com a gratidão, compaixão e revolta. Gratidão a todos que estão na lida para que fiquemos em casa, incluindo meus colegas, também jornalistas, que estão na linha de frente, combatendo nesta batalha com a informação.

Compaixão pelos milhares de desamparados expostos a sua própria sorte. Revolta por tantos que estão se aproveitando da vulnerabilidade coletiva, de forma irresponsável, para disseminar fake news num momento como este, fazer politicagem, e também por tanta leviandade que tenho observado no cumprimento das medidas preventivas, já que informação é o que não falta. Que esta experiência dramática possa nos tornar melhores como pessoas, mais críticos, menos acomodados, mais comprometidos com a vida em sociedade.”

Crisdélia, formada em jornalismo, casada, uma filha de 12 anos. “Determinamos um horário para levantarmos, não muito rígido, mas para podermos estabelecer uma rotina de cuidados, de estudos e ginástica também. O café da manhã é preparado em conjunto, depois limpamos a casa. Nós nos organizamos para economia água e luz. Meu marido e eu descemos para uma caminhada rápida no condomínio apenas quando não tem ninguém, e fazemos outras atividades físicas. Estamos lendo muito, fazendo nossas preces diárias, cursos online gratuitos. Minha filha está fazendo as aulas da escola particular. Temos comido menos porque o apetite diminuiu e estamos vendo muitos filmes e séries. Nossa rotina tem sido boa e não chegamos a ficar muito ansiosos porque estamos sempre fazendo alguma coisa. Estou aproveitando esse período para fazer coisas que o dia a dia do trabalho não permitia, como ver o que não precisamos mais, o que precisa ser descartado, o que pode ser doado.”

Igor: desenvolvedor de softwares e aplicativos, mora em Madrid, na Espanha. Sobre o coronavírus: “É basicamente assustador. Não é uma gripe. Muitos sintomas são muito leves ou não são contabilizados e isso é que torna o vírus tão assustador, que se espalha como um louco. Está por toda parte, muito rápido. É muito infeccioso. Não dá para interromper a epidemia, podemos apenas esperar desacelerá-lo o suficiente. Há alguns dias (o depoimento dele foi postado, faz uma semana, no Linkedin), havia pessoa minimizando o perigo. Adivinhem? Hoje estão em silêncio. O sistema de saúde da Espanha é muito bom, não perfeito, mas estamos acostumados a receber os cuidados de que precisamos quando necessário e sem pagar. Hoje, está em colapso. Diferentemente da China, que construiu hospitais em 10 dias, estamos convertendo hotéis em hospitais. Apenas supermercados, farmácias e tabacarias podem ficar abertos e entregar comida. Algumas coisas estão faltando nos mercados e as ruas estão vazias.”