Sobre o isolamento social imposto pelo novo coronavírus

Em tempos de isolamento social, é bom aproveitar o tempo para ouvir os amigos sobre isso. Sim, eu sei, aqui em São Paulo o isolamento é uma determinação do governo estadual. Mas, como tem gente nos altos escalões que acha que isolamento horizontal é bobagem, que o certo é confinar apenas as pessoas que estão no grupo de risco, quis conferir quem é e não é a favor da quarentena que a maioria de nós vive há mais de uma semana. Tem gente que está fazendo, mas não sabe se é demais. Há quem diga que nem se discute a importância de ficar em casa. Mas, também tem gente com uma visão um pouco mais ampla e que acredita que isso tudo é uma ótima oportunidade para as empresas e pessoas, de maneira geral, mudarem sua forma de pensar e seu modelo de trabalho. Vale dizer que não encontrei ninguém que defendesse a suspensão do isolamento.

No que me diz respeito: em uma visão mais humanista, não há nada que se compare à vida. Nada. É o que é preciso ser feito agora. Preservar vidas por meio do isolamento, evitando o contágio a todo custo. Salvar vidas nos hospitais, nas UTIs, desde que tenham capacidade para isso, o que não aconteceria se a doença se espalhasse como rastilho de pólvora, como ocorreu na Itália. Se vamos ter sérias consequências econômicas? Claro, é inevitável. Mas, basta olhar para ver a solidariedade brotando de todos os lados. É só olhar para o horizonte e não ver mais a nuvem de poluição, tão característica de uma cidade como São Paulo. Há fotos de Veneza, que mostram as águas mais limpas. Nós, os seres humanos, estamos destruindo o planeta em que vivemos e não é de hoje. O coronavírus é um basta para todos nós. E ficar em casa, além de preservar nossa saúde, nos põe para pensar. Ou fazemos as coisas de forma diferente, ou vamos todos desaparecer, graças a um minúsculo vírus que está colocando tudo – e todos – de cabeça para baixo. E viva o vírus!

Mauro, publicitário: Eu acho que ainda não sabemos se é excesso ou não. Ainda temos que esperar o avanço do contágio para avaliarmos a dose certa do isolamento. Acho que deveríamos focar em ter informações precisas e rápidas. Poderíamos explorar melhor a tecnologia, mapear os casos rapidamente, usar a geolocalização e colocar em um mapa todos os casos confirmados, casos suspeitos e óbitos, em tempo real. Isso seria muito eficaz com testes rápidos de confirmação de contágio. Existem cidades do interior que não possuem 1 só caso, e estão paradas! Defendo que temos que preservar as vidas, mas algumas atividades poderiam se adequar à prevenção do contágio, evitando aglomerações e contatos, além de higienização do ambiente. Um outro agravante é a questão política, que não nos deixa confiantes quanto às atitudes e as soluções propostas. Nunca temos a certeza de que estão agindo objetivando o melhor para todos nós brasileiros.

Elaine, advogada, professora e artista: Apesar dos percalços e das dificuldades que todos estamos encontrando, tem de fazer isolamento, é o mínimo para nos precavermos de um mal maior. Sou a favor para que possamos passar pela situação da melhor forma, não tão terrível. Pelo que se preconiza, se não fizermos, as cidades, os estados não fizerem isso o negócio vai pegar. Prejuízo financeiro a gente vai atrás depois, mas a vida não dá, né?

Vanessa, profissional de comunicação: É preciso pensar um pouco mais no ser humano, no planeta, na nossa saúde psicológica, no nosso bem estar. E isso não acontece. Estamos no “business as usual” até na quarentena, porque as pessoas com as quais eu converso em agências e nas empresas estão trabalhando muito mais, mesmo em home office. Então, muita gente pensa que precisa acabar esse home office porque não consegue cuidar do filho, não consegue fazer comida. Não sei se vamos conseguir internalizar essa coisa de vamos respirar. Algumas pessoas vão, outras vão fazer algumas mudanças de vida. Outras não vão ter como fazer e vão continuar nessa loucura e tem gente que gosta dessa loucura. A verdade é que isso está afetando não só a pessoa, mas a família, o planeta. Tem de haver um equilíbrio, não podemos só trabalhar e também não dá para ficar em casa sem fazer nada. Então em relação ao home office talvez algumas empresas, até pela sustentabilidade e pela economia, comecem a propiciar um fim de semana de três dias ou de dois dias e um de home office. É preciso entender que home office também funciona, apesar de muita gente não estar gostando, mas é porque é todo dia. Se fosse um dia ou outro, talvez fosse bom para todo mundo.

Marco Antonio, jornalista: Tenho 65 anos; minha mulher, 62. Somos do grupo de risco e, como não temos perfil de atleta, corremos o risco de ser acometidos por essa gripezinha, esse resfriadinho.!!! Jornalista meio aposentado – “je vive de béc” , diria aquele personagem do Jô Soares – e cozinheiro formado, aproveito o tempo para treinar no fogão. Só saio à rua devidamente mascarado para compras e uma rápida caminhada pelo calçadão, já que estou morando em Santos. E dá-lhe moqueca, peixe frito, macarrão de tudo que é jeito, carne na brasa com legumes grelhados, salada pra caramba e frutas. Um parente meu, bolsonarista, veio me dar lição de moral: “Se o país parar, sua geladeira vai esvaziar. E quem tem pouco hoje, não vai ter nada amanhã e vai te assaltar pra comer. O país vai quebrar!!”. Pedi para ele assistir na íntegra ao pronunciamento de Tedros Adhanon, diretor da OMS, e ver que é o governo que tem de ser responsável pelos mais necessitados. Não gosto do Witzel, mas ele falou uma coisa certa: “A economia a gente ressuscita, pessoas não”. Tenho um sobrinho de 40 anos que está internado em São Paulo. Ele é triatleta!!!! Está internado há uma semana. Tem febre alta, dores pelo corpo, oxigenação baixa… Só agora começou a melhorar. Quase todo dia me conta sobre o que enfrenta no hospital: “Tio, isso aqui é uma loucura. Gripezinha é a PQP”. Ficar isolado em casa não é agradável, mas é necessário. Trabalhe em casa, leia, faça um curso online, veja vídeos, séries. Torço para que o ministro Mandetta continue segurando essa bucha, para termos o menor número possível de mortos. Não desejo ver mais Itálias, Espanhas, Chinas e Estados Unidos na minha terra. Não quero ouvir pedido de desculpas de um ignorante por milhares de mortes. FIQUE EM CASA!!